Depoimento de Dom Manuel Clemente, Cardeal do Patriarcado de Lisboa, sobre a importância do culto da Nossa Senhora da Nazaré e dos valores marianos de paz a maternidade associados, bem como da sua ligação ao Mar, esse outro património da humanidade que urge preservar e acarinhar.
O culto de Nossa Senhora da Nazaré, que a Câmara Municipal do seu berço agora candidata a Património Imaterial da Humanidade, tem muita oportunidade e sentido nos tempos que correm.
Oportunidade, pois concorre para estreitar laços intercontinentais, tão grande foi a sua difusão pelo espaço lusófono e além dele. Sentido, porque esses mesmos laços reforçados contribuirão para a paz que todos almejamos, através dos grandes mares que nos reúnem e também urge proteger.
Foi sobre o mar que a Senhora apareceu a D. Fuas, salvando-o do precipício. Assim hoje, com o Menino que traz nos braços, nos protegerá a nós de “precipícios” que nunca faltam. Ao longo dos séculos, individualmente ou na massa anónima, foi um mar imenso de peregrinos a procurá-la. Da Nazaré a Belém do Pará, daqui a tantos lugares e templos que mantêm a sua invocação mundo além, a Senhora acolhe, reanima e relança quem a procura. Oferece-lhes Jesus Cristo, que recebeu de Deus e pôs no mundo, bem no nosso mundo.
Nisto se resume o Evangelho dos simples, que assim mesmo acalenta os romeiros de Nossa Senhora da Nazaré, com consciência mais clara ou diluída, mais confessional ou cultural que seja. É “património imaterial” de nós todos, pela mensagem universalista que transporta, no que temos de mais espontâneo e envolvente: a Mãe e o seu Menino, a alegria que nos reúne em seu redor, o horizonte celestial que se reabre, o mar que nos alarga e não submerge… É o melhor que temos para o futuro de todos.
+ Manuel Clemente
Lisboa, 9 de dezembro 2019