O meu encontro com a Virgem da Nazaré deu-se ainda eu era miúdo muito pequeno, três, quatro anos. Fui então de mão dada com o meu avô ao Sítio, ao Santuário da Nossa Senhora, e ao seu colo mostrou-me a Imagem da Virgem. Disse-me que eu tinha nascido do outro lado da rua, no Hospital da Confraria, e fora batizado naquela Igreja, em frente daquela Imagem. Sem perceber em toda a extensão tudo o que me disse, compreendi que entre mim e a Senhora começara um Encontro para a Vida.
Até hoje, e já passaram bem mais de sessenta anos, essa ligação mantém-se forte, renovada permanentemente, em conversas longas nos dias de alegria, ou em pedidos de apoio quando o percurso de vida entra em vielas estreitas e as tristezas são pesadas demais para as carregar sozinho.
Mas este Encontro para a Vida que me fez descobrir a fé, é uma maneira de estar no mundo e na vida, que identifica um sentimento de pertença a uma cultura e que permite entender que, embora a Senhora seja a mesma, os milhões que sentem o apelo de fé pela Nossa Senhora da Nazaré vivem-no de modo diferente a seu modo.
A Candidatura do Culto da Nossa Senhora da Nazaré a Património Imaterial da UNESCO permitiu-me saber das dezenas e dezenas de comunidades que pelo Mundo fora veneram a Senhora da Nazaré e levou-me a Belém do Pará, aquando do Círio de Nossa Senhora da Nazaré e testemunhar, cheio de orgulho, a crença de milhões de homens e mulheres na minha, digo, nossa, Nossa Senhora da Nazaré.
É este modo diferente de viver o igual amor pela Virgem que dá a beleza maior a este Culto e Lhe ressalta a Humanidade.
É também, por isto, que quando colegas meus contestam com a “verdade histórica” alguns aspetos da Lenda ou da Peregrinação da Imagem da Nossa Senhora da Nazaré da Palestina até Nazaré em Portugal, sorrio, não respondo, e penso que mesmo que a ciência viesse a pôr em causa o que acredito, esse fato não diminuiria o meu acreditar, pois a força deste Encontro para a Vida permanece inabalável para lá de ventos e tempestades.
Importa, ainda, transmitir que ao me debruçar sobre a Mensagem da Nossa Senhora da Nazaré, vou descobrindo que a Senhora não só nos abriu os caminhos do mar e através deles da paz, da convivência entre iguais, mas, também, de uma terra melhor e mais sustentável, cuidando do Mundo onde queremos viver, como uma mãe cuida de um filho, com amor e dedicação.
Carlos Medeiros, Nazareno e Coordenador Geral da Candidatura do Culto de Nossa Senhora da Nazaré – Práticas e Manifestações